quinta-feira, 30 de outubro de 2008

NIETZSCHE E O SOFRIMENTO


Todos nós temos fases ruins na vida. Todos enfrentamos dificuldades que perecem intransponíveis. Todos passamos por reveses, quando isso acontece, muitas vezes temos vontade de desistir.
A maioria dos filósofos tentou reduzir nosso sofrimento, oferecendo conselhos de como amenizar a dor. Teve um que se debruçou mais seriamente sobre essa questão, Friedrich Nietzsche. Ele acreditava que todos os tipos de sofrimento e fracasso deveriam ser bem-vindos no caminho para o sucesso e vistos como desafios a serem superados, como os alpinistas fazem ao subir uma montanha.
Praticamente sozinho entre os filósofos considerava os infortúnios como algo vantajoso na vida. Ele escreveu: “A todos com quem realmente me importo, desejo sofrimento, desolação, doença, maus-tratos, indignidades, o profundo desprezo por si, a tortura da falta de autoconfiança e a desgraça dos derrotados.”. Para compreender o que Nietzsche quis dizer, vala a pena escalar sua montanha preferida, nos Alpes suíços.
Nietzsche entendia de esforço, tanto físico quanto mental. Sua vida foi muito difícil. Ele viveu em permanente luta contra doenças: vertigens, dores de cabeça, enjôos, provavelmente em decorrência da sífilis que contraiu jovem, num bordel em Colônia. Era obrigado a estar sempre se mudando, em busca de um local cujo clima não agravasse seu estado. O lugar onde se sentia melhor era Sils Maria, no alto das montanhas no sudeste da Suíça. Ele esteve lá pela primeira vez em junho de 1879 e apaixonou-se pelo lugar. “Tenho o melhor da Europa, com seu ar soberbo”, escreveu. “Sua natureza combina com a minha.” Ele passou oito verões em Sils Maria, em um quarto alugado por um fazendeiro. Lá ele trabalhou em algumas de suas maiores obras como: Assim falava Zaratrustra, Além do Bem e do Mal e Crepúsculos dos Ídolos. Mas seus livros não fizeram sucesso enquanto ele estava vivo, embora tenha recebido o título de professor universitário aos 24 anos. Seu pensamento destoava dos demais colegas. Ele se viu obrigado a se aposentar aos 35 anos. Pelo resto da vida viveu com pouco dinheiro e os muitos livros que escreveu foram ignorados.
Ele tinha uma rotina definida: acordava às 5h da manhã, escrevia até o meio-dia e saia para caminhadas nas montanhas ao redor do lugarejo. Nietzsche não foi viver nas montanhas só por causa do ar puro e das belas paisagens. O cenário que o rodeava espelhava suas idéias sobre si e seu trabalho. A “filosofia é o exílio voluntário entre montanhas geladas”.
A vida amorosa de Nietzsche foi igualmente desastrosa. Todas as suas tentativas de seduzir mulheres foram em vão. Muitas se assustaram com seu volumoso bigode. Diversas vezes ele confessou sofrer com a solidão. Escreveu a um amigo casado: “Graças a sua esposa, as coisas são 100 vezes melhores para você do que para mim”. Vocês têm seu ninho juntos. “Eu tenho, se tanto, um caderno”.
Nietzsche resolveu mergulhar na filosofia, mas sua vida produtiva foi abreviada cruelmente. Terminou seus dias na loucura, depois do famoso colapso nervoso em que abraçou um cavalo em Turim, no ano de 1889. Ele voltou à pensão onde morava, dançou nu, pensou em fuzilar o Kaiser e declarou ser, entre outro, Jesus, Napoleão, Buda, o rei do Piemonte, Alexandre, O Grande. Foi posto num trem de volta à Alemanha e confinado num sanatório, onde, sob os cuidados da irmã e da mãe, permaneceu onze anos, até sua morte aos 56 anos.
Uma lição que a vida difícil ensinou a Nietzsche foi que toda conquista é fruto de luta e esforço constantes, embora imaginemos o sucesso como fácil e natural para algumas pessoas. Na visão de Nietzsche, não existe estrada reta até o topo. “Não falemos de dons ou talentos inatos”, escreveu. “Podemos listar muitas figuras importantes que não tinham talentos, mas conquistaram seu mérito e transformara-se em gênios. Elas fizeram isso superando dificuldades.”
Nietzsche dizia que, sem dor, sem enfrentar a dor, ninguém consegue nada. Para conseguir as coisas que valem à pena, é preciso sofrer. A essência da filosofia dele é uma idéia muito simples: dificuldades são normais. Não devemos entrar em pânico nem desistir de tudo. Nossa dor vem da distância entre aquilo que somos e o que idealizamos ser. Por não dominarmos a receita da felicidade, nós acabamos sofrendo. Mas ele achava que não bastava sofrer. Se o único requisito para se sentir realizado fossem as dificuldades, todos seríamos felizes. O segredo está em saber reagir bem ao sofrimento, ou, quem sabe, usá-lo para criar coisas belas.
Nietzsche tinha boas sugestões para isso. Ele foi um dos poucos filósofos a destacar o lado bom, das dificuldades e do fracasso. Ele achava que todos nós podíamos nos beneficiar deles. Ele dizia que o fracasso é um tabu em nossa cultura, tratado como se fosse uma coisa que só acontecesse a alguns coitados, mas ninguém fala a respeito.
E, do outro lado, há o sucesso. Os dois são coisas distintas. O interessante é a idéia de que na vida de qualquer um, mesmo sendo uma boa via, sempre haverá um grau de fracasso. Pode não ser muito, mas sempre haverá. Para Nietzsche o fracasso não bastava. Todas as vidas têm um grau de fracasso. O que tornam algumas mais satisfatórias é a forma como o filósofo é encarado.
Um dado que surpreende na biografia de Nietzsche é a vontade que ele sentiu de abandonar a vida acadêmica para se dedicar a profissão de jardineiro. Esse plano nunca se realizou, mas lidar com plantas ensinou-lhe uma lição: “Diante de problemas, devemos nos espelhar nos jardineiros. Eles deparam-se com plantas que tem raízes feias. Pois eles são capazes de cultivar algo que parece feio a princípio, até extrair a beleza que há nele. Para ele, essa é uma metáfora de como devemos agir na vida. Pegar situações que nos parecem horríveis e fazer nascer algo de belo delas.
Há algo animado na comparação botânica feita por Nietzsche. Mesmo nossos sentimentos mais vis e negativos podem dar belos frutos se bem cultivados. Isso só depende de nós mesmos. A inveja, por exemplo, pode gerar só amargura, mas se conduzido do jeito certo, pode nos estimular a disputar com um rival e produzir algo maravilhoso. A ansiedade pode nos deixar em pânico, mas também pode nos levar a uma análise do que está errado, gerando, assim, paz de espírito. Era por isso que Nietsche desejava o infortúnio a seus amigos, por acreditar que as dificuldades eram um mal necessário e que, se cultivados com aptidão necessária, podiam levar a criação de coisas belas.
Se Nietzsche dedicou-se a pensar nas melhores reações aos problemas, ele também refletiu sobre quais seriam as mais desastrosas e concluiu que das piores era afogar as mágoas. Um dos traços mais marcantes de Nietzsche era seu horror ao álcool. Era mais uma questão de gosto pessoal. Ele dizia que qualquer pessoa que quisesse ser feliz não deveria chegar perto de bebidas alcoólicas. Ele dizia: “os espíritos mais elevados devem se abster da bebida. A água basta.” Imaginar que é bom escapar dos problemas tomando 1 ou 2 drinques de vez em quando é ter uma visão equivocada da análise nietzschiana da relação entre o sofrimento e felicidade. A felicidade não vem da fuga dos problemas, e sim do ato de cultivá-los para extrair algo positivo deles. A última coisa que Nietzsche recomendaria seria afogar as mágoas. Nossas preocupações são pistas valiosas do que está errado com a nossa vida e podemos apontar o caminho para torná-la melhor.
Nietzsche nasceu na pequena Rocken, na ex-Alemanha Oriental. Seu pai era o pastor local. A mãe extremamente devota, também era filha de pastor. O filósofo adorava o pai, e deve ter ficado em choque quando o perdeu repentinamente com apenas quatro anos. Essa perda o atormentava pela vida toda. Uma das primeiras coisas que fez quando juntou algum dinheiro, ao vencer um processo judicial contra um editor, foi comprar uma grande lápide que até hoje vemos no túmulo de seu pai. Nela, ele mandou inscrever uma frase do Novo Testamento: “Die Liebe höret nimmer auf”, “O Amor nunca morre”, uma tradicional mensagem natalina.
Mesmo tendo amado profundamente o pai e mesmo estando sepultado num cemitério cristão ao lado dele, Nietzsche via com reservas o tipo de ajuda que o cristianismo oferece em tempo de dificuldades.
É revelador visitar a casa onde Nietzsche nasceu, à sombra da igreja luterana, onde seu pai era páraco. O local está povoado em detalhes. Ele escreveu em uma atmosfera religiosa. Assim é surpreendente ler o que ele escreveu já adulto, sobre a religião de seus pais. “É justo que se leia o Novo Testamento com reservas. Em todo o texto, há uma única figura que inspira respeito, Pilatos, o governador romano. Simplificando, é indecente ser cristão hoje em dia.” Ele era contra o cristianismo pelo mesmo motivo que condenava o álcool. Ir a um culto na igreja pode fazer você se sentir melhor rapidamente, da mesma forma que se embebedar pode fazer isso. Para ele a fé cristã pode amortizar a dor, amortizando também a energia que ela nos dá para superar os problemas e chegar à verdadeira felicidade.
Há diferenças inegáveis entre a igreja e o bar. Mas, para Nietzsche o tipo de consolo oferecido nos dois locais é o mesmo. Ele acredita que o Novo Testamento tenta nos animar dizendo que muitas coisas que vemos como problema na verdade não são problemas, mas qualidades. Para quem é acanhado demais, está escrito: “Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a Terra”. Para os que sofrem por não ter amigos: “Bem-aventurados sois, quando vos injuriarem e vos perseguirem”. E para aqueles que sofrem com a falta de dinheiro e que invejam aqueles que o têm, lá está o consolo: “É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus”.
Para Nietzsche essas palavras eram catastróficas como o álcool, o aconselhamento cristão pode aliviar a dor, mas também leva a energia para superar o problema que o gerou. Então, como Nietzsche gostaria que os cristãos se comportassem as se deparar com as dificuldades? Ele queria que deixassem de fingir não desejar as coisas mais difíceis. Ele enfrentou dificuldades imensas. Ele foi pobre, doente e solitário. Mas nunca teve a atitude que acusava os cristãos de terem, ou seja, ele nunca afirmou que a saúde, riqueza e amor eram coisas ruins. Aceitava o fato de não ter essas coisas, em parte por escolha própria, em parte graças às circunstâncias, mas jamais negou seus desejos, nem sua dor. Assim, talvez não seja surpreendente encontrar nos registros funerários do vilarejo de Röcken, a inscrição deixada pelos páracos, ao lado de seu nome, dizendo “O Anticristo”.
Embora tenha tido uma vida difícil, não devemos achar que ele viveu se lamentando o tempo todo. Muitas vezes ele falava de satisfação, sobretudo quando estava nas montanhas. Mas por satisfação, ele queria dizer algo mais abrangente do que a sensação de bem-estar que talvez possamos imaginar. Chegou a escrever sarcasticamente sobre pessoas que ele considerava “viciada na religião do conforto”. Ele chamava essas pessoas de “pequenas, mesquinhas que se escondem na floresta como cervos amedrontados”. Mas aqueles que se aventurarem a sair para a clareira poderão apreciar a vista e respirar a brisa. Só então compreenderão a vantagem de abandonar o conforto em busca da verdadeira realização, como dia a famosa frase de Nietsche “Aquilo que não me mata só me fortalece”.
Como todos os filósofos, o interesse de Nietzsche era que as pessoas fossem felizes, mas diferentemente de todos os outros, ele acreditava que os extremos da dor eram um componente vital para chegar a felicidade que tinha em mente. Nem tudo aquilo que nos faz sofrer é necessariamente ruim, assim com nem tudo que nos dá prazer necessariamente nos faz bem. “Considerar o sofrimento como algo mau a ser abolido, é o acúmulo da idiotice.”


Resumo do vídeo

FILOSOFIA PARA O DIA-A-DIA

COM: ALAIN DE BOTTON

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

SCHOPENHAUER E O AMOR


SCHOPENHAUER (1788-1860) – O FILÓSOFO DO HUMANISMO. Introduziu o budismo e o pensamento indiano na metafísica alemã. Para ele, o mundo não passava de uma representação, uma síntese entre o objeto e a consciência humana. O que havia de real era a vontade, irracional e insaciável, por isso causa de todo sofrimento. Apesar do pensamento, apontar saídas para as dores do mundo: a contemplação da arte, a compaixão e, sobretudo, a anulação da vontade, uma fuga para o nada.

Livros:
A arte de ter Razão.
O mundo como Vontade e Representação.
Metafísica do Belo.
Fragmentos para a História da Filosofia.

Todos nós teorizamos sobre a felicidade que o amor nos trará. A maioria faz da busca pelo amor a meta da sua vida. Mas o amor é um tema sobre o qual a filosofia não costuma falar. Como ele é uma das experiências da vida mais transformadoras e importantes, seria plausível imaginar que a filosofia fosse levar o amor muito a sério. Mas, de maneira geral, isso não acontece. Basicamente, o tema é deixado para os poetas, histérico e apresentadores de programas vespertinos de TV. Mas houve um filósofo que leva o amor muito a sério, e que o via como uma de nossas preocupações centrais. Seu nome era Arthur Schopenhauer.
Schopenhauer foi um filósofo que parecia entender a intensidade do que sentimos quando nos apaixonamos. Ele achava que estávamos certos de viver em função do amor, e que não havia outra coisa mais importante. Nosso erro segundo ele, era achar que a felicidade tinha algo a ver com isso.
De início, é difícil de acreditar que Schopenhauer pudesse entender de paixão ou que pudesse ajudar alguém que estivesse apaixonado.. Ele nunca se casou, vivia sozinho e, às vezes, mostrava-se bastante avesso às mulheres. Ele nasceu em Danzig, em 1778, mas passou a metade da vida em Frankfurt. Desde cedo buscava a felicidade no amor. Era inteligente, seguro, bonito e, depois que perdeu o pai, aos 17 anos, muito rico também. Mas não fazia sucesso com as mulheres, escrito de próprio punho.
Em 1821, aos 33 anos, ele conheceu uma mulher que gostou dele. Era uma cantora de 19 anos, Caroline Medon, mas ele nunca quis formalizar a relação. Eles chegaram a ter um filho. Ela queria se casar, mas ele não quis. Ele dizia que quando duas pessoas se casam, acabam fazendo de tudo para se detestar. Depois de dez anos de idas e vindas, o relacionamento acabou.
Mais velho, ele teve um relacionamento com a escultora e admiradora de sua filosofia Elizabeth Ney, que foi a Frankfurt fazer um busto seu, mas esse caso não pode ser considerado o ápice de uma vida romântica com a qual o jovem Schopenhauer sonhara.
Mas como um filósofo com uma vida romântica desastrosa poderia ter algo a nos dizer sobre o amor?
Para começar, ele dizia que o amor não é um assunto banal que não devemos vê-lo como distração de assuntos mais sérios ou adultos. Não é por acaso que se trata de um sentimento tão avassalador, capaz de tomar conta de nossa vida e de todos os momentos de nosso dia.
Ele diz que não devemos nos culpar tanto pelo estado de desespero e obsessão em que entramos se o amor fracassa. Ficar surpreso com a dor da rejeição é ignorar o quanto de entrega a aceitação exigiria.
Criamos histórias de amor para nós mesmo, imaginamos que nos apaixonaremos por um parceiro que nos fará felizes. Mas Schopenhauer via isso de maneira diferente. Para ele, nós nos submetemos a telefonemas ansiosos e jantares caríssimos, a luz de velas por uma única razão: o impulso biológico para perpetuar a espécie. Ele o chamava de “impulso de vida”. “Nada na vida é mais importante que o amor, porque o que está em jogo é a sobrevivência da espécie”. O amor é uma tática da natureza para nos levar a ter filhos. Por mais que gostemos de nos imaginar como seres românticos somos todos, basicamente, escravos do impulso de vida.
O fundamental na tese de Schopenhauer é que impulso de vida pode atuar de forma bastante inconsciente. Conscientemente, as pessoas podem querer ir a uma festa, mas inconscientemente o que as movem é a necessidade de se reproduzirem. Ele precisa ser inconsciente para ser eficaz, porque ninguém assumiria conscientemente o fardo da perpetuação. “O instante em que dois jovens se sentem atraídos um pelo outro deve ser considerado o nascimento de um novo indivíduo”. Sua tese explica a intensidade dessa atração.
Mas por que nos sentimos atraídos por algumas pessoas e não por outras?
Um dos maiores mistérios do amor é “por que ele?” ou “por que ela?
Inúmeras pessoas não provocam qualquer reação em nós, mesmo sendo, em tese, nossos pares ideais e acabamos nos apaixonando por outras com quem a convivência pode ser difícil. Schopenhauer tinha uma resposta: apaixonamos por uma pessoa quando sentimos, inconscientemente que ela pode nos ajudar a produzir herdeiros saudáveis. O amor é apenas nosso impulso de vida, descobrindo alguém que ele considere o pai ou a mãe ideal de nossos filhos.
Isso levou Schopenhauer a reflexões interessantes sobre a regra da atração. Atraímo-nos por pessoas capazes de contrabalançar nossas imperfeições, garantindo, assim, filhos fisicamente e mentalmente equilibrados. Pessoas muito altas são atraídas por parceiros mais baixos para que os filhos não sejam gigantes. Ele acrditava que a busca do equilíbrio se estendia até o tom da pele. Algumas das idéias de Schopenhauer podem parecer descabidas hoje. Há muitos tipos de vínculos emocionais e sexuais ao qual sua tese não se aplica.
Entretanto, uma geração antes de Darwin e cerca de 60 anos antes de Freud, ele foi o primeiro a apontar razões inconscientes e biológicas para o amor.
Buscar a felicidade e ter filhos são projetos divergentes que o amor, astutamente nos faz enxergar como um só, pelo tempo necessário para produzir e criar os filhos. Só muito depois, com herdeiros saudáveis e equilibrados, correndo pelo jardim, nos damos conta de que fomos enganados, condenando-nos a separação ou começamos a passar os jantares num silêncio hostil.
Schopenhauer coloca-nos diante de uma escolha tácita. É como se, na hora de selar o casamento, um dos dois, o indivíduo ou o interesse da espécie, tivesse de sair perdendo. Para ele, não há dúvida que o indivíduo sofre mais.
Infeliz no amor, e tendo sua obra quase completamente ignorada, Schopenhauer vivia recluso num modesto conjugado em uma rua de Frankfurt chamada Schöne Aussicht, um nome irônico diante do pessimismo de sua visão, já que significa “belas perspectivas” em alemão.
No meio de tanta infelicidade uma de suas alegrias era a música. Antes do almoço ele tocava uma hora de Rossini ou outro compositor. Ele desenvolveu um pessimismo quase anedótico, aconselhando seus leitores a engolirem um sapo todas as manhãs para garantir que não se deparariam com nada mais repulsivo ao longo do dia. “A existência humana só pode ser algum erro. Pode-se dizer que, se hoje ela está ruim, as coisas só tendem a piorar, até que o pior de tudo aconteça.” Escreveu Schopenhauer. “É mais seguro confiar no medo do que na esperança.” Esta é uma frase com o pessimismo típico de Schopenhauer.
As companhias mais íntimas do filósofo passaram a ser vários poodles. Ele dedicava aos cães todo o seu afeto. Chegou a batizar um de Atma, a Alma primordial para os brâmanes, e passou a se interessar pela causa do bem-estar animal.
No fim da vida, suas idéias enfim, começaram a conquistar adeptos. Seu último livro, uma coletânea melancólica de ensaios e aforismos filosóficos, tornou-se um sucesso de vendas. Alemães amantes da filosofia começaram a comprar poodles em sua homenagem.
No auge da fama, ele a definiu dizendo: “ O Nilo, enfim, chegou ao Cairo.”Mas ele não teve tempo de desfrutar do sucesso e desenvolver pensamentos alegres. Em 1860, Schopenhauer voltou para casa, queixou-se de falta de ar e morreu.
“Se um deus criou este mundo não gostaria de ser esse deus, pois sua miséria e seu infortúnio me partiram o coração” disse Schopenhauer.
Talvez pareça estranho achar que Schopenhauer possa nos ajudar nas questões do amor, tendo sido um sujeito tão amargurado. Mas acho que ele nos deixou idéias confortadoras a respeito. Para começar, ele disse que se apaixonar é inevitável, que a biologia é mais forte que a razão. Assim, não somos infelizes por mero acidente, essencialmente somos iguais a todos ou outros animais. Sentimo-nos impelidos a encontrar um parceiro, a gerar filhos e criá-los e somente uma força poderosa como o amor seria capaz de nos motivar para isso.
Schopenhauer nutria um interesse especial por animais feios como toupeiras, porcos-espinhos e mangustos-anões. O que despertava seu interesse era a vida dura que eles levavam enfrentando invernos rigorosos, vivendo debaixo da terra e tendo filhos que mais se parecem com vermes gelatinosos e o fato de nada disso impedir que se reproduzissem. Ele achava que esses animais podiam nos ensinar sobre nosso comportamento, sobre como nos dedicamos à reprodução sem pensar necessariamente em felicidade. Se a reprodução nos entristece, se achamos que o casamento não vai bem, podemos aprender como esses nossos amigos vendo com eles não fazem isso por felicidade, mas porque precisam, por causa do impulso da vida.
Schopenhauer tem mais uma idéia a respeito do amor que pode nos ajudar quando somos rejeitados, muitas vezes, não entendemos porque o parceiro quis romper e nos sentimos rejeitados. Ele diz que quem termina o namoro não está rejeitando o parceiro. Não sou eu que não mereço o amor, mas é o impulso de vida de minha parceira que considerou que ela poderá ter filhos mais saudáveis com outro! Encontrei outra mulher que me considera o parceiro ideal, mesmo que apenas por uma questão de equilíbrio entre o meu nariz e o dela.
Talvez você estivesse feliz com a pessoa que o rejeitou, mas a natureza não estava. Por isso, vai ter de aprender a se desapegar. Numa visão tradicional, dizemos que um casal será feliz para sempre. Num olhar mais desiludido e moderno, estão condenados a discussões e ao divórcio precoce.
Schopenhauer convida-nos a assumir um ponto de vista diferente, e considerar que a felicidade não está em questão. Ele não queria nos deixar deprimido, mas nos libertar das expectativas que pode acabar gerando frustrações. Às vezes, os pensadores mais pessimistas, paradoxalmente, podem ser os que nos oferecem mais consolo!


Resumo do vídeo
FILOSOFIA PARA O DIA-A-DIA
COM: ALAIN DE BOTTON

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

SÊNECA E A RAIVA


LUCIUS ANNAEUS SENECA (4 a.C. - 65 d.C.) - Filósofo da Ética. Teve importante papel na vida pública, política do Império Romano. Foi conselheiro de Nero, orador, advogado e primeiro representante do estoicismo romano, escola filosófica voltada às questões morais. Suas idéias estavam centradas no desapego aos bens materiais, na busca pela tranqüilidade da alma, na aceitação serena do destino, na harmonia com a natureza e na brevidade da vida humana.


Muito antes de saber qualquer coisa a respeito eu me sentia atraído pela idéia da filosofia. Eu a via como uma matéria prática, capaz de fazer diferença no mundo e de nos dizer muito sobre percalços cotidianos como rejeições amorosas, demissões ou a falta de amigos.
A filosofia traz uma promessa que pode parecer ingênua, mas na verdade é muito profunda e de mostrar um caminho para aprender a ser feliz.
A vida moderna é cheia de frustrações e a maiorias das pessoas não parece capaz de reagir filosoficamente a elas, nós perdemos as estribeiras. Portanto a ira tem sido uma das emoções bastante comum em nossas vidas. Assim, é interessante descobrir que, na antiguidade ela era vista com um problema maior.
Há um filósofo da antiguidade que se dedicou ao estudo da ira e queria acalmar as pessoas. Ele nasceu em Córdoba, na Espanha, no ano 1 da Era Cristã, e chamava-se Sêneca.
Sêneca foi o filósofo mais conhecido e popular de sua época. Ele escreveu mais de 20 livros com conselhos práticos sobre rodos os aspectos da vida. Ele foi para Roma ainda menino e passou a maior parte da vida influenciando a política local como membro do senado. Mas nem por isso teve uma vida livre de frustrações. Ele era um homem melancólico por natureza, que havia sofrido de tuberculose na juventude e tinha surtos depressivos, quase suicidas. Ele viveu em uma época muito perigosa.
Sua carreira política foi construída durante uma série de governos de líderes tirânicos e imprevisível. Ele vivia, literalmente sem saber o dia de amanhã, pisando sobre terreno instável.
No ano 49 d.C., ele teve que assumir contra a vontade o cargo mais ingrato: O de tutor de um menino de 12 anos, LUCIUS DOMITIUS AHENOBARBUS, o futuro imperador Nero. Logo ficou claro que Nero era um psicopata, homicida. Sabendo que corria perigo, Sêneca tentou se afastar da corte por duas vezes, entregou ao imperador sua carta de demissão. Por duas vezes, ela foi recusada com um abraço, e o argumento de que Nero preferiria morrer a fazer mal a seu tutor. Nada do que Sêneca percebia estimulava-o a crer nessas palavras.
Ao conhecermos o palácio subterrâneo de Nero, começamos a entender porque Sêneca se preocupava tanto com a ira. Nero era um homem com poderes absolutos. As pessoas eram trazidas para as câmeras eram executadas em massa. Ele atirava romanos aos leões, decapitava-os, lançava-os aos crocodilos e desmembrava-os vivos. Virgens eram capturadas nas ruas e trazidas para o palácio para serem mortas. Gladiadores que não se saiam bem eram lançados aos lobos. Tudo isso acontecia nessas câmaras subterrâneas.
Vendo resultados tão tremendos da ira, Sêneca ficou desesperado para abrandá-la. Um imperador romano tomado pela ira não era só uma visão desagradável, mas um fenômeno potencialmente catastrófico.
Por experiência própria Sêneca considera a ira um problema grave. Ele chegou a dedicar um livro inteiro, da Ira, a esse tema. “A mais terrível e furiosa das emoções”, ele escreveu. Mas recusava-se a vê-la como uma explosão irracional e incontrolável.
Que tipo de coisa deixa você irritado?
Eu fico bastante irritada no trânsito.

Para Sêneca, a ira era um problema filosófico que podia ser tratado pela argumentação filosófica. A ira surgia de certas idéias racionalizadas sobre o mundo. E o problema delas era ser otimista demais. Na visão de Sêneca as pessoas ficam com raiva porque criam muitas expectativas.
Num ataque de ira, sentimo-nos surpresos e injustiçados. O que Sêneca diria é que, por exemplo, que as confusões e barbeiragens no trânsito não são injustas, nem surpreendentes, mas um fato previsível da vida. Quem se irrita com elas tem expectativas erradas em relação ao mundo. Assim, seu primeiro conselho era que fôssemos mais pessimistas, para ajustar nossa visão de mundo aos reveses da vida. Quem se irrita com elas tem expectativas erradas em relação ao mundo. Assim, seu primeiro conselho era que fôssemos mais pessimistas, para ajustar nossa visão de mundo aos reveses da vida. E ele nos pede para ter mais uma coisa em mente: se aceitarmos que nada pode ser feito quanto às nossas frustrações, não vamos nos descontrolar tanto quanto elas acontecerem.
Sêneca diz um dos motivos para nossa raiva é imaginarmos que as coisas sempre têm de ser como queremos, que somos capazes de moldar o mundo segundo nossos desejos, mas não são. Há muitas coisas que temos de aceitar. Nem sempre temos liberdade para mudá-las. Para tentar nos fazer compreender isso, para criar uma imagem clara, Sêneca fez uma comparação inusitada: Ele disse que nós somos, basicamente, como cães amarrados a uma carroça em movimento. A coleira é longa o bastante para nos dar alguma liberdade, mas não para permitir que cada um vá para onde quiser. O cão logo se dá conta que para ser feliz, ele precisa, algumas vezes, se contentar em seguir a carroça. È bem melhor segui-la para onde você não quer ir do que se debater contra algo que não podemos mudar. Porque, além de ir para onde não quer, você vai acabar se estrangulando.
Mas levamos uma vantagem sobre os animais: somos dotados de razão. Essa razão nos dá um triunfo: a capacidade de perceber o que podemos e o que não podemos mudar. Talvez não possamos alterar certos acontecimentos, mas podemos mudar nossa atitude com relação a eles. Era essa capacidade, para Sêneca, que conferia a liberdade que nos distingue como humano.
Mas Sêneca não é útil apenas em nossos momentos de fúria. Sua filosofia nos dá um meio de ficarmos calmos e controlados diante de qualquer adversidade. Quem teve a oportunidade de conhecer Pompéia ou assistir algum filme, poderá ter uma idéia da vida que Sêneca levava. Ele foi um homem rico e podemos cair na armadilha de imaginar que ele e outros patrícios levavam uma vida fácil e tranqüila. Mas basta ler Sêneca para descobrir que essa imagem está errada. Em meio ao luxo, a aristocracia romana fervilhava de fúria.
Sêneca fez uma análise interessante da ira, observando o mundo a sua volta, ele flanava pela alta sociedade de Roma imperial. Muitos de seus amigos tinham enormes casa de campo, com escravos para preparar a comida, banquetes que entravam noite adentro. Ele fez uma constatação surpreendente: a riqueza torna as pessoas mais cheias de raiva, e não mais calmas. “A prosperidade alimenta o destempero”.
Sêneca conheceu um certo Vedius Pollio, alto funcionário do governo, que certa vez deu uma festa. Um escravo encarregado de uma bandeja com copos teve o azar de tropeçar e derrubar a bandeja. Vidius Pollio ficou tão furioso que mandou atirar o escravo num tanque cheio de lampreias, para que fosse devorado vivo. O que aconteceu na análise de Sêneca foi que Vidius Pollio vivia num mundo onde copos não se quebravam.
O filósofo concluiu que o problema dos ricos como Vedius é que eles tinham expectativas absurdas. O mesmo pode ser dito dos ricos atuais. Basta observar o check-in da 1ª classe de uma companhia aérea e ver como as pessoas falam mais alto, do que na fila de classe econômica. Quanto mais rico você for, mais expectativas tende a ter. Quando elas são frustradas, a fúria emerge. Os ricos acreditam que o dinheiro vai protegê-los de reveses e frustrações, e essa é a expectativa mais absurda de todos.
A filosofia de Sêneca não é importante só para os irritados. Ele achava que todos nós reagimos mal às frustrações e só teríamos a ganhar se reduzíssemos nossas expectativas. Ele achava que o mais estressante é o que nos pega de surpresa. Que nos irritamos mais com os problemas que surgem quando menos esperamos. Se você admitir que as coisas possam dar erradas quando as coisas acontecerem, você já está preparada. Ele dizia que a melhor forma de combater a raiva é estar preparado e aconselha-nos a fazer isso.
Costumamos confrontar as pessoas dizendo que “tudo vai ficar bem”. Para Sêneca, essas palavras de suposto apoio podem ser cruéis, pois deixam as pessoas desesperadas para situações adversas. Ele recomenda a estratégia oposta: uma reflexão tranqüila, mas diário sobre tudo o que pode dar errado. A idéia é estruturar o pensamento que às vezes nos ocorrem, refletindo sobre elas toda manhã.
Sêneca não proíbe as pessoas de esperar que as coisas funcionassem bem, ele só gostaria de vê-la preparada psicologicamente para o contrário. Ele achava que, muitas vezes superestimamos nossa capacidade de mudar os acontecimentos, de rever situações frustrantes.
Foi para nos relembrar constantemente de quantas coisas estão fora do nosso controle que ele evocou a ajuda de uma deusa. O nome dela era Fortuna e estava representada em muitas moedas romanas. Havia também estátuas suas pela Itália. Ela apreciava dois objetos: em uma das mãos, uma cornucópia, como símbolo de seu poder de conceder favores. Nessa cornucópia, havia muitas das boas coisas da vida. Mas fortuna tinha também um objeto mais sinistro, um leme como símbolo de seu poder de desviar nossos destinos. Num rompante de crueldade, como lhe era freqüente, bastava um toque no leme para ela destruir nossas vidas, levar nossos empregos e nos causar imensa dor de cabeça.
Fortuna simboliza as coisas que devemos aceitar, as boas e as ruins. Quando algo sai errado, não devemos gritar e praguejar, mas lembra que muitas frustrações são caprichos cruéis de uma deusa cujos atos não podemos mudar.
A maior parte dos habitantes de Pompéia, uma cidadezinha aos pés do Vesúvio, acreditava ter controle sobre o próprio destino. Mas, talvez, o lembrete mais duro dos limites de nosso controle sejam as forças da natureza. Ao meio-dia de 13 de agosto de 79 d.C, eles iriam descobrir que Fortuna tinha planos para a cidade. Em questão de horas, Pompéia foi soterrada por cinzas vulcânicas, uma demonstração terrível e clara da tese de Sêneca: nunca estamos a salvo da deusa Fortuna. Mesmo quando tudo parece tranqüilo, pode sobrevir o desastre. A melhor maneira de nos protegermos é estarmos preparados psicologicamente.
Tendemos a achar que o legado mais importante dos filósofos são os livros que escreveram onde todo o talento e sabedoria estão concentrados. Mas os antigos agarravam-se à crença mais abrangente de que também devemos buscar inspiração, nos momentos de necessidade na forma com os filósofos levam suas vidas e como morriam.
Foi no instante de sua morte que Sêneca se mostrou mais inspirador. A cena foi reproduzida infinitamente desde então. Em abril de 65 d.C. foi descoberta uma conspiração contra Nero na qual Sêneca acabou incriminado, embora provavelmente fosse inocente. Nero enviou um centurião à residência do filósofo, para ordenar que ele se matasse imediatamente. Quando os amigos e familiares souberam da sentença, caíram em prantos. Mas Sêneca não chorou. Foi sua atitude diante da desgraça que ajudou a definir o que ele queria dizer, ao afirmar que devemos ver as coisas filosoficamente. Calmamente, ele pegou uma faca e cortou os próprios pulsos. Sêneca morreu da maneira como nos aconselhava a viver.
“Por que chorar por fatos da vida quanto toda ela é motivo de lágrimas?”
Com sorte, nada de tão terrível irá ocorrer conosco, mas coisas ruins podem acontecer, e a melhor maneira de amenizar os golpes, se eles vierem, é estarmos preparados.
Ira e frustração são essencialmente, reações irracionais e aos reveses, e a única estratégia racional é manter-se calmo diante da constatação de que algumas coisas dão errado. Dessa maneira, estaremos agindo no mais verdadeiro e melhor sentido do termo, filosoficamente.


Resumo do Vídeo Filosofia para o dia-a-dia com Alain de Botton

Humanismo Secular


O Humanismo Secular é uma filosofia e perspectiva que se concentra nos assuntos humanos e emprega métodos racionais e científicos para lidar com a larga variedade de assuntos importantes para todos nós. Para alcançar esta meta, o Humanismo Secular encoraja a dedicação a um conjunto de princípios que promovem o desenvolvimento da tolerância e compaixão e uma compreensão dos métodos da ciência, análise crítica, e reflexão filosófica.

O Humanismo Secular é um termo que tem sido usado nos últimos trinta anos para descrever uma visão de mundo com os seguintes elementos e princípios:


  • Uma convicção de que dogmas, ideologias e tradições, religiosas, políticas ou sociais, devem ser avaliados e testados por cada individuo em vez de simplesmente aceites por uma questão de fé.

  • Compromisso com o uso da razão crítica, evidência factual, e método científico de pesquisa, em lugar da fé e misticismo, na busca de soluções para os problemas humanos e respostas para as questões humanas mais importantes.

  • Uma preocupação primeira com a satisfação, desenvolvimento e criatividade tanto para o indivíduo quanto para a humanidade em geral.

  • Uma busca constante pela verdade objetiva, com o entendimento que nossa percepção imperfeita dessa verdade é constantemente alterada por novos conhecimentos e experiências.

  • Uma preocupação com a vida presente e um compromisso de dotá-la de sentido através de um melhor conhecimento de nós mesmos, nossa história, nossas conquistas intelectuais e artísticas, e as perspectivas daqueles que diferem de nós.

  • Uma busca por princípios viáveis de conduta ética (tanto individuais quanto sociais e políticos), julgando-os por sua capacidade de melhorar o bem-estar humano e a responsabilidade individual.

  • Uma convicção de que com a razão, um mercado aberto de idéias, boa vontade, e tolerância, poder-se-á progredir na construção de um mundo melhor para todos nós.
Qual é a Origem do Humanismo Secular?

O Humanismo Secular enquanto um sistema filosófico organizado é relativamente novo, mas os seus fundamentos podem ser encontrados nas idéias de filósofos gregos clássicos como os Estóicos e Epicurianos, bem como no Confucionismo Chinês. Estas posições filosóficas buscavam as soluções de problemas humanos em seres humanos em vez de deuses.

Durante a Idade das Trevas da Europa Ocidental, as filosofias humanistas foram suprimidas pelo poder político da igreja. Aqueles que ousavam expressar opiniões em oposição aos dogmas religiosos dominantes eram banidos, torturados ou executados. Foi apenas na Renascença dos séculos XIV a XVII, com o desenvolvimento da Arte, Música, Literatura, Filosofia e as grandes navegações, que a consideração à alternativa humanista a uma existência centrada em Deus passou a ser permitida. Durante o Iluminismo do século XVIII, com o desenvolvimento da ciência, os filósofos finalmente começaram a criticar abertamente a autoridade da igreja e a envolver-se no que se tornou conhecido como "Livre-Pensamento".

O movimento Livre-Pensador do XIX na América do Norte e Europa Ocidental finalmente tornou possível para o cidadão comum a rejeição da fé cega e superstição sem o risco de perseguição. A influência da ciência e tecnologia, conjuntamente com os desafios à ortodoxia religiosa por célebres livres-pensadores como Mark Twain e Robert G. Ingersoll trouxeram elementos da filosofia humanista até mesmo para igrejas cristãs tradicionais, que se tornaram mais preocupadas com este mundo, e menos com o próximo.

No século XX cientistas, filósofos e teólogos progressistas começaram a organizar-se num esforço para promover a alternativa humanista às tradicionais perspectivas baseadas na fé. Esses primeiros organizadores classificaram o humanismo como uma religião não teísta que preencheria a necessidade humana de um sistema ético e filosófico organizado para orientar as nossas vidas, uma "espiritualidade" sem o sobrenatural. Nos últimos trinta anos, aqueles que rejeitam o sobrenaturalismo enquanto opção filosófica viável adotaram o termo "Humanismo Secular" para descrever sua postura de vida não religiosa.


Os seus críticos freqüentemente tentam classificar o Humanismo Secular como uma religião. No entanto, o Humanismo Secular carece das características essenciais de uma religião, inclusivamente a crença em uma divindade e uma ordem transcendente que a acompanha. Os humanistas seculares mantêm que assuntos referentes a ética, conduta social e legal adequadas, e metodologia da ciência são filosóficos e não pertencem ao domínio da religião, que lida com o sobrenatural, místico e transcendente.


O Humanismo Secular, conseqüentemente, é uma filosofia e perspectiva que se concentra nos assuntos humanos e emprega métodos racionais e científicos para lidar com a larga variedade de assuntos importantes para todos nós. Ao mesmo tempo em que o Humanismo Secular é adverso aos sistemas religiosos baseados em fé em muitos pontos, ele se dedica ao desenvolvimento do indivíduo e da humanidade em geral. Para alcançar esta meta, o Humanismo Secular encoraja a dedicação a um conjunto de princípios que promovem o desenvolvimento da tolerância e compaixão e uma compreensão dos métodos da ciência, análise crítica, e reflexão filosófica.

Por Fritz Stevens, Edward Tabash, Tom Hill, Mary Ellen Sikes, Tom Flynn(tradução: David Noelle / revisão e adaptação: Miguel Duarte)